"Muitos livros foram escritos sobre bruxaria(...). Embora seus autores soubessem que bruxas existissem, nenhum deles consultou uma bruxa sobre suas visões a respeito da bruxaria. Afinal, a opinião de uma bruxa deveria ter algum valor, mesmo se não se encaixasse nas opiniões preconcebidas(...). Sou antropólogo e é consenso que o trabalho de um antropólogo é investigar o que as pessoas fazem e em que acreditam, e não o que outras pessoas dizem que elas fazem ou acreditam."(Gardner, 2003, p.21-22 em: A Bruxaria Hoje)
"A Bruxaria Moderna é um fato. Ela não é mais uma relíquia subterrânea da qual a camada restante, e até mesmo a própria existência, é acirradamente disputada pelos antropologistas. Ela não é mais o passatempo bizarro de um punhado de excêntricos. Ela é a prática religiosa ativa de um número substancial de pessoas." (Farrar, 1985, p. 2 em: A Bíblia da Feitiçaria)

quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

A WICCA NO BRASIL

Não se sabe exatamente quando nem como a Wicca veio para o Brasil. Mas por volta dos anos 90, já havia matérias sobre a Wicca produzidas no Brasil, embora nenhuma delas esclareça como ela veio parar aqui. Em uma delas na Revista Planeta desetembro de 97, há uma matéria onde o repórter Romeo Graziano Filho entrevista a Sacerdotisa Denise De Santi de São Paulo. Nessa matéria ela explica que "Fizemos contato, via internet, com uma associação pagã européia, para busca de informações, e buscamos uma busca unificada das bruxas e bruxos brasileiros para regulamentar a religião Wicca no País".
Muito provavelmente foi assim que a Wicca chegou ao Brasil. Através de troca de informações através da internet, cartas, e livros escritos no inglês original.
Isso mostra o quanto é importante, sabermos e pesquisarmos mais sobre isso, pois além de fazer parte da nossa História, pode nos ajudar a compreender o perfil dos praticantes da Wicca no Brasil. E compreender melhor porque as pessoas buscam esse caminho.

A WICCA E O FEMININO

Para muitas mulheres, a Wicca é uma forma de recuperar sua própria auto-estima.
Há muito tempo, algumas das primeiras formas de manifestações da religiosidade na Terra, contavam com deidades essencialmente femininas, isso, numa época onde ainda não se conhecia o papel do homem na reprodução humana. Os homens não entendiam como uma mulher podia sangrar por tantos dias e ainda continuar viva! Além disso, não entendiam como é que de dentro delas podia surgir uma nova vida. Por esse motivo, acreditavam que elas eram Deusas, e possuíam poderes especiais. Alguns povos chegaram a confeccionar certas estatuetas de mulheres com formas arredondadas, seios e barrigas protuberantes e quadris largos. Essas estatuetas ficaram conhecidas como Vênus, como as de Laussel e Willendorf. A mulher passou a ser associada à fertilidade da Terra, no momento em que esses povos aprenderam a agricultura, e à Lua, quando eles passaram a observar seu movimento no céu e perceber que seu ciclo coincidia com o ciclo menstrual feminino. Nessas civilizações, a mulher era respeitada e tida como igual ao homem, e mesmo considerada como Deusa, não era tratada de forma superior. Alguns homens chegaram a temer esse poder, e quando finalmente descobriram seu papel na reprodução as coisas começaram a mudar. Os homens tornaram-se gananciosos, ansiando por poder, e a única forma de conseguí-lo, seria relegando à mulher à uma posição de inferioridade, acabando com o culto à uma Deusa e sobrepondo-a a um Deus masculino. Se antes a Deusa eram vista como sua igual, sua consorte, agora estava relegada à posição de filha, subalterna, sempre submetida à sua autoridade.
Embora algumas civilizações tenham mantido o costume de cultuar Deusas, juntamente com Deuses, com a chegada de religiões monoteístas e patriarcais, as Deusas passaram a condições muito piores, sendo denominadas como demônios, prostitutas e feiticeiras. Juntamente com as Deusas, a situação das mulheres foi piorando. Se antes eram consideradas iguais em direitos com os homens, agora deviam ser submetidas à sua autoridade, devendo-lhes cega obediência, caso contrário seriam mortas, punidas ou rejeitadas. Eram vistas como criaturas impuras, por causa da menstruação e por isso, não podiam participar da vida sacerdotal. Além disso, eram chamadas de ardilosas, trapaceiras, indignas de confiança, feiticeiras, imaginário esse criado pelos homens através das Deusas, para dominar as mulheres.
Durante muito tempo essa visão da mulher perdurou, até que elas cansaram-se desse tratamento e passara a exigir a igualdade de direitos. Muita coisa mudou a partir de então, a condição feminina passou a ser valorizada, física e espiritualmente. Algumas religiões como a Wicca, deram fôlego a movimentos feministas, embora a Wicca não seja feminista, a partir do resgate da sacralidade feminina, o culto à Deusa, juntamente, com o Deus. A valorização da feminilidade, a harmonização do seu corpo, principalmente com relação à sua própria menstruação, trabalhando a quebra dessa visão patriarcal de que a menstruação é suja, imunda, impura, fedida, pelo contrário, o sangue menstrual é sagrado, o útero é sagrado, pois ali que a vida é gerada e nascida. Tudo isso é feito através dos Círculos de Mulheres (aqui em Porto Alegre a ABRAWICCA-RS montou um.) com esse objetivo: trabalhar o feminino, através das Deusas e entre elas, a Senhora do Oceano de Sangue, a Deusa da Menstruação.

MAGIA BRANCA E MAGIA NEGRA

Quando se fala em bruxaria, magia, feitiçaria, logo vem à tona expressões como magia negra e magia branca. Comumente, a magia negra é associada ao mal, à maldição, enquanto à magia branca é associado ao bem e à cura e à proteção. Há quem acredite ainda que exista até magia cinza. Já de cara eu afirmo sem o menor medo de estar errada: Magia não tem cor! Não existe magia branca ou negra, ou seja, a magia não é essencialmente boa nem essencialmente má.
Vamos pensar um pouco: o que é magia? Magia é a manipulação da energia. Que energia? De onde ela vem? E eu respondo, de novo, ela vem de nós mesmos e das coisas ao nosso redor. Ela é chamada de poder pessoal. Quem manipula essa energia? Não são as próprias pessoas? Então podemos deduzir que a magia é usada de acordo com a intenção da pessoa que a manipula. A magia não tem consciência própria, ela não vai sair por aí deliberadamente causando mal. Se a pessoa que a utiliza, que a manipula o faz com intenção de prejudicar alguém, é o pode acontecer, como também se sua utilização for para o bem.
Na Wicca como eu já expliquei em textos anteriores, tudo o que você faz, para o bem ou para o mal retorna para você, portanto a pessoa que utiliza magia precisa estar ciente de que a responsabilidade pelos resultados é sua! Afinal de contas, grandes poderes trazem grandes responsabilidades!(o tio Bem sabia muito bem do que estava falando!).
Concluímos então, que não existe magia boa ou má, o que existe são pessoas com intenções boas ou más!

WICCA: UMA CULTURA ESTRANGEIRA NO BRASIL?

Por Erynn Dé Dannán

Uma das críticas que se tem feito à Wicca é o fato de ela ter sido "importada" dos EUA, num um tempo em que se luta para manterem vivas as tradições e a cultura que são próprias de nosso país, além de tentar diminuir o impacto da "cultura fast-food" e qualquer outra "novidade" que venha dos EUA ou de outros países.
Mas há um detalhe muito importante que as pessoas ainda não se deram conta, ou não querem considerar: O que é a cultura brasileira? Se pararmos para pensar, há vários pontos a serem observados. Um deles é o tamanho de nosso país. A outra é a diversidade de costumes que existem, sem contar que a maioria dela tem suas origens em outros povos.
Vamos pensar: O Brasil é um país com enorme área territorial. Colonizada por portugueses. Invadida por holandeses e franceses. Juntando uma parte que era de domínio espanhol. Só nesse parágrafo há quatro culturas diferentes convivendo durante pelo menos três séculos. E olha que eu ainda nem mencionei os "índios" e "africanos".
A partir do século XIX outras culturas juntaram-se à nossa "cultura brasileira" (já havia uma cultura "comum" no nosso território, e, preste atenção, ela vai mudar novamente). Alemães e italianos, ingleses e povos das mais diversas partes chegaram ao sudeste, e sul do território para trabalhar na lavoura cafeeira e povoar o território recém anexado pelo tratado de Santo Idelfonso.
Através dessa pequena visita ao passado podemos perceber que a "cultura brasileira" é na verdade uma colcha de retalhos de culturas de outros povos. Mesmo hoje percebemos que a cultura do sul, é totalmente diversa do norte, assim como a do nordeste é diferente do sudeste. É claro que ela tem as suas especificidades, porém ainda assim não deixa de ter seu caráter policultural.
Aí entra outra questão: A cultura é estática? Em um ano e meio de faculdade aprendi que a cultura é uma instituição em construção. Ela é dinâmica, é construída através do tempo, está sempre mudando. Algumas coisas permanecem iguais, outras se modificam e outras são acrescentadas. Mas isso não é algo ruim, pelo contrário. Uma cultura estática é uma cultura morta. Mas isso não significa que devemos abandonar a nossa cultura e adotar outra por achar que ela é melhor. Uma coisa não justifica a outra. Mas também não quer dizer que naturalmente alguma característica de culturas diferentes possa fazer parte da nossa.
A Wicca é um exemplo disso. As pessoas a criticam principalmente por ela vir dos EUA. O que elas não sabem é que ela é originalmente inglesa, e não americana. Ainda assim, a própria Wicca é uma mistura de diversas culturas, não é algo predominantemente anglo-saxã. Ao chegar ao Brasil ela se adapta aos nossos próprios costumes, sem perder sua originalidade, pois a forma como ela foi concebida permite isso. Um exemplo é que um Wiccano brasileiro pode perfeitamente trabalhar com deidades indígenas e africanas, sem com isso deixar de ser wiccano. Se a Wicca originalmente trabalha com seres do folclore anglo-saxão, como fadas e duendes, isso não significa que aqui não podemos utilizar a caipora, e a iara. Um dos exemplos mais vivos é a Roda do Ano, que aqui é invertida, pois estamos no Hemisfério Sul. Nada impede que utilizemos elementos da nossa própria cultura para enriquecer os nossos rituais.