"Muitos livros foram escritos sobre bruxaria(...). Embora seus autores soubessem que bruxas existissem, nenhum deles consultou uma bruxa sobre suas visões a respeito da bruxaria. Afinal, a opinião de uma bruxa deveria ter algum valor, mesmo se não se encaixasse nas opiniões preconcebidas(...). Sou antropólogo e é consenso que o trabalho de um antropólogo é investigar o que as pessoas fazem e em que acreditam, e não o que outras pessoas dizem que elas fazem ou acreditam."(Gardner, 2003, p.21-22 em: A Bruxaria Hoje)
"A Bruxaria Moderna é um fato. Ela não é mais uma relíquia subterrânea da qual a camada restante, e até mesmo a própria existência, é acirradamente disputada pelos antropologistas. Ela não é mais o passatempo bizarro de um punhado de excêntricos. Ela é a prática religiosa ativa de um número substancial de pessoas." (Farrar, 1985, p. 2 em: A Bíblia da Feitiçaria)

quarta-feira, 9 de julho de 2008

Minha esposa é uma Bruxa!!

Ela estava diante do computador - onde era cada vez mais freqüente encontrá-la - quando de repente virou- se pra mim e disse:
"Amor, sou uma Bruxa!"
E eu gelei!
As imagens em minha mente eram uma completa confusão! Lembrava-me das bruxas das histórias em quadrinhos e daquelas dos contos da carochinha: velhinhas malvadas e feiosas com enormes verrugas no nariz, cozinhando criancinhas (meu Deus, minha filhinha!). Nada parecidas com a figura angelical que tinha à minha frente...
- É? - Tentei parecer natural, mas não evitei a pergunta: "Como assim, uma bruxa?" Ela apenas sorriu, então percebi como devia ter soado tola minha pergunta, e tentei melhorá-la:
- Só estou perguntando porquê se começarem a aparecer asas de morcego e línguas de lagarto na nossa dispensa, eu vou saber do que se trata!
Piorou!! Ué, mas sei lá... Não sabia nada sobre bruxas de verdade. Já tinha visto umas duas entrevistas da Márcia Frazão e também já li alguns livros do Paulo Coelho, mas como imaginar que ali na minha cama também dormia uma Bruxa? Tinha tantas dúvidas... e se as colegas de minha mulher começassem a pousar com suas vassouras bem no meu quintal numa noite de lua cheia? O que fazer?
Oferecer um refresco de sapo e levar junto açúcar e adoçante?
Ou então uns biscoitinhos crocantes de pernas de aranha?
Aos poucos ela foi me situando, ia me explicando as lendas em torno das bruxas e suas origens, também contava histórias de suas antepassadas. E eu podia ver seus olhinhos brilharem quando ela me falava da tal Deusa.
Deusa mesmo, no feminino, vejam só!
Em momento algum minha mulher tentou me "converter". Acredito em meu Deus e ela, em sua Deusa, nada mais justo! Tudo que ela me diz a respeito de sua Religião sou eu mesmo quem procuro saber. Até porque, como poderia respeitar sem nem entender?
Antes de consagrar, ela me deixou ver seus instrumentos. Fiquei meio inquieto ao ver o tal Athame, mas ela me explicou que um wiccano nunca tira vidas, pois respeita toda forma vivente.
Toda noite ela entrava em sites sobre Bruxaria, eu via aquelas páginas negras, com mulheres seminuas e homens com enormes chifres e achava que tudo não passava de uma curiosidade passageira e banal. Uma influência de Paulo Coelho, essas coisas de esoterismo e misticismo. Só com o tempo percebi que se tratava de algo bem mais amplo.
É assim como uma escolha de vida, uma visão diferente do mundo ao nosso redor. Onde cada qual tem o direito de ser e fazer como bem achar melhor e sempre considerando os outros. Por isso, principalmente, respeito e admiro minha bruxinha (como carinhosamente a chamo) e todos seus irmãos wiccanos.
E tem um tal livro da capa toda preta que não ouso mexer, mas que agita minha imaginação. Ela já me disse que é um diário e me proibiu de tocá-lo. Fico a imaginar seu conteúdo: poções, feitiços, rituais e receitas (será que ela já fez alguma pra mim num jantar?).
Uma vez espiei um de seus Rituais - de longe, sem atrapalhar, claro! - e posso dizer que achei muito bonito. Assim como acho linda a devoção dela aos Deuses.
Gosto também do cheirinho de incenso espalhado pela casa.
E confesso que me sinto mais protegido por ter sido escolhido por minha bruxinha como seu companheiro.
E acho muito legal a relação dos wiccanos com a Natureza.
E também considero interessante a constante busca do equilíbrio e harmonia dos Bruxos com os ciclos da Natureza.
E me sinto orgulhoso por ter uma companheira tão especial (embora ela teime em dizer que não é diferente de ninguém, sei...)!
Essas Bruxas...

Deus Castiga?

Por Ana Marques

O menininho voltava da escola, cabisbaixo. Seu rosto refletia muita preocupação. Parou para falar com as flores de um jardim, como sua mãe o havia ensinado a fazer.
- Florzinhas, Deus castiga?
As florzinhas adoravam aquele sol doce da tarde e olharam sem entender a tristeza do garoto.
- Ah! Florzinhas... minha amiguinha na escola disse que Deus castiga se eu fizer coisa errada, se eu não rezar para ele de noite, se eu não fizer tudo que ele manda.

- Estou com medo desse Deus que castiga.
As florzinhas, compreensivas, balançaram suavemente para lá e para cá, mostrando que não.Mas o menino continuou com dúvidas.
Ele caminhou mais um pouco, viu árvores grandes, de cascas grossas e raízes profundas. Pensou que elas deveriam saber muito e resolveu conversar com elas, como seu pai havia ensinado.
- Árvore, você é grande, enxerga mais do que eu, responde: Deus castiga?
- Deus castiga se eu converso com você? Se meus pais são diferentes?
- Sabe, estou com medo desse Deus. Acho que ele tem raiva de mim.

A árvore, penalizada, balançou suavemente para lá e para cá, mostrando que não. Caíram folhas na cabeça do menino, mostrando que elas eram todas um pouco diferentes e todas podiam cair ou ficar na grande árvore.

Mas o menino continuou com dúvidas.
Ele caminhou mais um pouco e ao longe viu grandes nuvens escondendo e mostrando o sol. Estavam brincando de esconde-esconde! Não! Estavam formando desenhos! E ele resolveu conversar com as nuvens e com o sol, como sua madrinha o havia ensinado.

- Sol, você está no alto. Vê tudo, ilumina, e como a madrinha sempre me fala, faz com que tudo nasça. Sol, Deus castiga porque não sou cristão? Deus castiga porque eu não fui batizado?
- Nuvens, vocês passam, escondem o sol e o mostram de novo, formam desenhos bonitos e trazem chuva. Nuvens, Deus castiga porque eu não acredito nele desse jeito que minha amiguinha falou que ele é? Deus castiga porque colocamos chifres nele?

As nuvens docemente se movimentando para cá e para lá e o brilho do Sol diziam que não. O calor suave do Sol esquentou algumas partes, depois outras do corpo do menino, e ele viu que não haviam preferidos, que o sol tocava a todos sem distinção.
Mas o menino continuou com dúvidas.

E veio a bola, colorida e vibrante, rolando alegremente.
O menino a viu e olhou-a, esperançoso:- Bolinha, Deus castiga? Deus castiga porque a gente acredita na Deusa?A bola, quase indiferente, continuou rolando.Rolou, rolou, rolou.

E o menino ouviu uma voz:- Ei!
Ele se virou.Um outro garoto o fitava, rindo.
- Quer brincar com a gente?O menininho pensou e respondeu:
- Quero!
- Então pega a bola! - respondeu o outro garoto.

O menino voltou os olhos para a bola e ela, debaixo daquele ameno sol de março fez coro com as nuvens, a árvore e as florzinhas, sorriu e respondeu silenciosamente para ele "Viu? Não existe castigo".

E o menino finalmente riu e correu pegar a bola para fazer o que o unia a todas as outras crianças do mundo, pagãs ou não: BRINCAR!

COMO É SER UM PEQUENO BRUXO:

- Colin Laochan

Meu nome mágico é Colin Laochan, tenho 7 anos e sou bruxo filho de bruxa. Desde os 4 anos eu faço os rituais com a minha mãe. Primeiro eram só os rituais em casa, depois vieram os rituais públicos. Adoro participar: já ajudei nos feitiços, nas harmonizações, já fui a "Criança da Promessa" em Yule, canto, danço e toco tambor.

Mas para ir aos rituais, você tem que saber se comportar. Não pode sair do círculo, por isso vá ao banheiro antes do ritual. Tem que ficar em silêncio na hora das invocações, das explicações e das meditações. Tem que participar direito, obedecendo ao que se pede. Se você não souber alguma coisa, como pra que lado girar, fique sempre atrás de uma pessoa que você tem certeza que sabe. Se tiver dúvida, peça orientação. Não fique de fora, tem que participar.

O que eu mais gosto dos rituais é da meditação. Quando eu não durmo, parece uma historinha. Gosto também de cantar, dançar e tocar tambor. É muito animado. O sabbat que eu mais gosto é Ostara porque a gente come os ovos pintados.

Na minha escola antiga ninguém acreditava que eu era bruxo. Um dia um amigo da minha sala perguntou pra minha mãe se era verdade e quando ela disse que sim, ele perguntou porque então eu não voava de vassoura. Hahaha, bruxos de verdade não voam de vassoura! Isso é invenção.

Victor Laars - 2004 Copyright © , direitos reservados. (A violação de direito autoral no Brasil é crime)
Fonte: Abrawicca/Família

Você tem um aluno pagão em sua escola?

Um Guia para educadores

Cecylyna Dewr

Algum aluno de sua escola pode praticar uma religião com a qual você não está familiarizado.
Este folheto simplesmente lhe fornecerá informações que você precisa saber para compreender as diferentes experiências que este aluno pode compartilhar com você e responder algumas questões.


O que um aluno Pagão provavelmente pratica ou acredita?

Pagãos geralmente seguem uma religião não dogmática, por isso pode haver mais variações entre crenças religiosas Pagãs do que entre as denominações do Cristianismo. Da mesma forma que um Cristão pode ser Católico, Presbiteriano ou somente Cristão, os tipos mais comuns de Paganismo praticados são Wicca, Asatru, Druidismo ou simplesmente Bruxaria. Todas estas facções são um pouco diferentes umas das outras. Por isso, as demonstrações à seguir podem não se aplicar a todos os Pagãos que encontrar.
No entanto, existem algumas práticas que são geralmente comuns entre a maioria dos Pagãos; o aluno ou seus pais irão lhe dizer se suas práticas diferem significativamente das que seguem.


Um aluno Pagão pratica uma religião politeísta, baseada na natureza.

Um aluno Pagão honra a Divindade como Deusa e Deus, algumas vezes com uma ênfase feminista na Deusa. O efeito disso é que como princípio, o aluno provavelmente tratará os dois sexos igualmente.
Um aluno Pagão celebra cerimônias religiosas com pequenos grupos na Lua Cheia e no início e meio de cada estação sazonal, em vez de praticar sua religião em grandes congregações ou com um planejamento semanal fixo. Estas cerimônias são geralmente chamadas de "Rituais", "Círculos", "Esbats", "Sabbats", e as congregações são geralmente chamadas de "Covens", "Groves", ou "Circulo". Alguns dos itens frequentemente encontrados sobre o altar em uma cerimônia Pagã são estatuetas da Deusa e do Deus, velas, cristais, bastões, o athame (uma faca com fio duplo, usada como símbolo e não como arma), cálice, caldeirão, incenso e uma estrela de 5 pontas chamada de Pentagrama ou Pentáculo.
Um aluno Pagão pode usar um símbolo de sua religião como uma peça de joalheria. O símbolo mais comum é o Pentáculo, uma estrela de 5 pontas dentro de um círculo. O conceito equivocado de que o Pentagrama é um símbolo satânico está baseada no seu uso invertido por satanistas, da mesma forma que usam uma cruz invertida ou qualquer outro símbolo religioso invertido. O significado do Pentáculo como ornamento por Pagãos tem suas raízes nas crenças dos pitagóricos gregos, para quem o pentagrama corporificava o perfeito equilíbrio e sabedoria; inserindo a estrela em um círculo, lhe é adicionado o símbolo da eternidade e unidade. Outras jóias que podem ser usadas incluem entrelaçados celtas, cruzes de braços iguais, triskelions, martelo de Thor, Labrys (um machado duplo, um dos símbolos dos cultuadores de Cibele), figuras da Deusa, Luas crescentes ou cheias, Yin-Yang, Olho de Hórus ou Chifres de Ísis da mitologia egípcia.
Um aluno Pagão compreende a Divindade como imanente na natureza e humanidade e irá ver todas as coisas como interconectadas. Ele geralmente se preocupa com ecologia e meio ambiente e é fascinado pelo ciclo da vida.
Um aluno Pagão acredita em Magia. Isto pode incluir a crença no campo de energia pessoal como o conceito chinês do Chi, o uso de rituais e objetos para dramatizar e focar pensamentos positivos e técnicas de visualização. Isto não significa que o aluno é ensinado a acreditar que mexendo o seu nariz ele pode limpar seu quarto num passe de mágica, controlar espíritos ou demônios e fazer qualquer coisa que quebre as leis naturais. Todavia, se jovem, como toda criança, ele pode acreditar ser possível fazer tais coisas. Isto também não significa que o aluno é instruído à enfeitiçar e amaldiçoar. Em nossa estrutura ética acreditamos que nossas ações retornam ao remetente, e então são proscritas.
Um aluno Pagão pode acreditar em reencarnação. Esta é uma crença muito comum entre Pagãos, mas não é universal. No entanto, um aluno Pagão provavelmente não acreditará em céu ou inferno; ele pode crer no conceito céltico de País de Verão, um lugar de descanso entre as encarnações ou no Valhala, um reino de honra de acordo com as religiões nórdicas.
Um aluno Pagão pode se chamar de Bruxo, Wiccaniano, Wiccano, Pagão, Neo-Pagão, Cultuador da Deusa, Asatruar, ou Druida. Será improvável que ele se chame de Feiticeiro (Warlock), pois crê-se que este termo vem de uma palavra escocesa que quer dizer "aquele que quebra o juramento". Mesmo que um aluno Pagão possa ou não se ofender com estereótipos relacionados à Bruxaria, ele provavelmente irá lhe informar que pele verde, verruga no nariz e as caricaturas exibidas no Halloween não possuem nenhuma relação com sua religião.


A um aluno Pagão são ensinados conceitos éticos com ênfase na liberdade e responsabilidade pessoal.

Conceitos éticos Pagãos incentivam a liberdade pessoal dentro de uma estrutura de responsabilidade. A base principal da ética Pagã é a compreensão de que todas as coisas estão interconectadas, que nada ocorre sem afetar outros e que toda ação tem conseqüências.
Não há conceitos de esquecimentos para prejuízos alheios no sistema ético Pagão; conseqüências de ações contra alguém que tenhamos prejudicado precisam ser encaradas e reparadas. Não há regras arbitrárias sobre questões morais. Em compensação, cada ação prejudicial precisa ser ponderada conscientemente sobre quais malefícios pode trazer. Desta forma, por exemplo, homossexualidade consensual é considerada uma questão moral sem importância por que ela não prejudica ninguém, mas colar em uma prova é errado por que prejudica o intelecto e integridade de outros, fazendo com que se ganhe vantagens sobre quem se está colando. As formas mais comuns nas quais estas éticas são fundamentadas são o Dogma da Arte "Sem prejudicar ninguém, faça o que quiser" e a Lei Tríplice "Tudo o que se faz retorna triplicado".


Um aluno Pagão possui um paradigma que celebra a pluralidade

Como os sistemas de religiões Pagãs se fundamentam em ser um caminho entre vários, não o único caminho para a verdade, e como Pagãos exploram a variedade das Deidades entre seus panteões, femininas e masculinas, um aluno Pagão é educado em uma atmosfera que desencoraja a discriminação baseada em diferenças como raça e gênero e é encorajado quanto à individualidade, auto-exploração e pensamentos independentes. Um aluno Pagão provavelmente também é instruído a comparar e compreender outras religiões; muitos Pagãos são inflexíveis quanto não forçar suas crenças aos seus filhos, mas, no entanto os instruem em muitos sistemas espirituais deixando-os decidir pelo melhor caminho quando tiverem idade suficiente. Porém, um aluno Pagão dificilmente terá um conceito emocional sobre céu, inferno, salvação como ensinado pelas religiões Cristãs, apesar de conhecer tais conceitos intelectualmente. Um aluno Pagão é ensinado a respeitar textos sagrados de outras religiões, mas muito provavelmente não irá crer neles literalmente quando conflitarem com teorias científicas ou se passarem como a única verdade.


Um aluno Pagão provavelmente gosta de leitura, ciência e áreas assistenciais.

Margot Adler, Uma radio-jornalista Norte Americana, publicou os resultados de especulações sobre Pagãos na edição de 1989 de seu livro, Drawing Down the Moon (Puxando a Lua para Baixo). Os resultados mostraram que a única coisa que Pagãos possuíam em comum apesar de suas inúmeras diferenças era uma voraz sede pela leitura e aprendizado. Pagãos parecem também estar fortemente representados na internet e no campo da área assistencial, assim uma criança Pagã provavelmente será um expert em computadores desde cedo.
Apesar de suas crenças muitas vezes incompreendidas, religiões baseadas na terra têm crescido muito em todo o mundo através de poucas décadas e são provedoras de uma espiritualidade satisfatória para seus praticantes. Com a atual apreciação da diversidade e tolerância, muitas pessoas entendem agora que diferentes heranças culturais trazem perspectivas que podem ser valorizadas em vez de temidas ou negadas. Temos esperança que como um educador este folheto possa prover as informações necessárias que você precisa para facilitar o entendimento.

Amor de Bruxa

Por Ana Marques
- Mãe! Mãe! Mãe!
A menina branquinha como a neve, de longos cabelos negros como ébano e belos lábios vermelhos como sangue, chorava sem parar e chamava pela mãe.
- Mãe! Mãe!
A mãe veio. As mães sempre vem, não é mesmo? Pegou a pequena no colo e sorriu. Acariciou os cabelos lisos da criança e ninou-a até acalmá-la. Só então perguntou:
- Minha linda, o que houve? Por que você está chorando?A criança voltou a choramingar, dizendo entre soluços:
- Mamãe, no bosque estão contando histórias sobre a senhora, sobre mim... Falam que você é uma madrasta malvada, que me maltrata, que tenta me matar, que é vaidosa e fútil.
-Mãe... eu nem sei o que é fútil...A menina chora mais, a mãe sorri.
- Filha, ouve sua mãe... Não vale a pena chorar pelo que você ouve por aí. Sou sua mãe, você é a minha filha... O que essas pessoas sabem do nosso amor? Da nossa cumplicidade? Das noites na frente das fogueiras? Das danças na lua cheia? Dos bolinhos assando no forno? Das maçãs carameladas em dias de festa?- Ah... filha... as pessoas vêem apenas o que querem ver, o que compreendem. Elas não me entendem, não percebem que para ser mãe, eu não preciso ser feia ou esquecer de mim. Que para ser esposa, eu não preciso deixar de ser mulher. Não percebem que para acalentar menina tão especial como você em meu seio, eu não preciso sentir inveja ou ciúmes, porque somos diferentes e complementares. Você é a jovem cheia de energia e sem nenhuma experiência. Eu sou a mulher cheia de experiência e com a energia controlada. Um dia serei a anciã, aquela que irá te acolher nos momentos difíceis, te acalentar quando a vida te desafiar, te aconselhar quando você se sentir perdida e te respeitar pela mulher que você é assim como você me respeitará pela senhora que eu serei. Eu terei rugas e amarei cada uma delas. Você terá filhos e eu amarei cada um deles. E enquanto eu tiver forças, irei dançar nas fogueiras com você. A mãe suspirou.
- Mas você precisa compreender que enquanto essas pessoas tiverem língua, elas falarão, e falarão o que quiserem da forma como entenderem. Elas não podem me entender porque eu não me comporto como elas, e elas também não irão te entender porque você certamente se comportará diferente dos filhos delas... Então eu sempre serei a bruxa malvada. E quando você crescer, será a sua vez. A mãe sorriu para a menina.
- Não tenta entender tudo agora. Apenas não dê ouvidos para essas fofocas, continue brincando, buscando os amigos que você puder ter e sendo feliz apesar dos outros. Quando falarem algo, apenas ria. O riso desarma as pessoas. E completou:
- E lembra que eu te amo.

segunda-feira, 7 de julho de 2008

Trechos de livros

Posto agora, trechos de livros da Marion Zimmer Bradley (A sacerdotisa de Avalon, A senhora de Avalon, entre outros) que explicam um pouco da crenca pagã.

Crença na Deidade Dual:

Ouve criança, e dirte-ei o que está no coração dos Mistérios: No nível mais alto, existe o Uno, não manifestado, assexuado, que tudo abarca, auto-suficiente. Mas quando só o que existe é Ser, não há ação. E é por isso que falamos em Deus e Deusa. O Uno torna-se Dual, e os dois interagem para levar o espírito a manifestar-se. A força feminina desperta o masculino, ele a fecunda e ela dá à luz ao mundo... Todos os Deuses e também todas as Deusas são um, quer lhe chamemos Arianhood, Diana ou Pele, a luz do Mistério é Uma, mas nós vemo-la como a luz que se reflete através de cristais ou prismas, que se divide em muitas cores. Em cada terra os deuses são diferentes. Alguns podem ver apenas um Deus, enquanto outros veneram muitos, mas cada um dos modos pelo qual homens e mulheres vêem seus deuses ou deusas, contém uma parte desse Mistério.
Nós que somos pagãos, vemos a Deusa e o Deus de muitas maneiras, e por muitos nomes, mas conhecemos este primeiro e maior de todos os Mistérios, que é que os Deuses, como quer que lhes chamem, são todos Um.
Mas é verdade que, enquanto nós conhecemos a identidade de todos os Deuses por qualquer nome que lhes possamos chamar, acreditamos que servimos aos Deuses naquelas que são, talvez, a mais pura de suas formas, as divindades presentes em todos os homens e mulheres. E assim, comprometemo-nos a servi-los como pais, irmãos e filhos. É por isso que, por vezes, dizemos que vemos a Face dos Deuses, na face de todos os homens e mulheres.
Eles fazem bem em servir o Christos, se seguirem realmente os seus ensinamentos, Eles só estão errados ao supor que não existe outra verdade que não seja a que vêem.

“- É necessário - disse eu, numa certa manhã - que a pessoa culta compreenda não só aquilo em que acredita, mas a razão por que acredita. Por isso, pergunto-vos, quem é o Deus Supremo?
Durante um longo momento, as jovens entreolharam-se, como se não tivessem a certeza do que eu queria significar com aquela pergunta, e muito menos dirigida a elas. Finalmente, Lucrécia, cuja família exportava lã, ergueu a mão.
- Júpiter é o rei dos deuses, é por isso que o imperador põe a sua imagem nas moedas.
- Mas os cristãos dizem que todas as divindades, com exceção do deus dos Judeus, são demônios - objetou Tércia, a filha do sapateiro.
- Isso é bem verdade, e por isso vos pergunto, quantos deuses há?
Gerou-se uma grande discussão, até que ergui a mão para impor silêncio de novo.- Têm todas razão, segundo a nossa maneira de pensar. Cada terra e cada distrito têm as suas próprias divindades, e no império, a nossa prática tem sido respeitar todos. Mas pensem nisto: os maiores dos nossos filósofos e poetas falam de uma divindade suprema. Alguns chamam a esse Poder “Natureza” e outros “Éter”; outros ainda, chamam-lhe “o Deus Supremo”. O poeta Maro diz-nos:
Sabei primeiro que o céu, a terra, o mar
A pálida orbe lunar o curso das estrelas,
Todos são por uma Alma alimentados,
Um Espirito, uma chama celestial
Que brilha em cada membro da estrutura,
E move o todo grandioso.
Mas, e quanto à Deusa? - perguntou a pequena Pórcia, apontando para o altar ao canto da sala soalheira que usávamos para dar as aulas, onde sempre ardia uma lamparina diante do baixo-relevo das Mães. Por vezes, quando ninguém estava presente, eu acariciava a cabeça do cão no regaço da quarta Mãe e sentia-a quente e macia sob a minha mão, como se Hylas tivesse voltado para mim.
Sorri, pois tinha esperanças de que alguém levantasse essa questão.
- Faz, sem dúvida, mais sentido ver o Poder supremo como feminino, se quisermos dar um gênero à Divindade, visto que é a mulher que dá a vida. Mesmo Jesus, que os cristãos dizem ser filho de Deus ou mesmo o próprio Deus, teve de nascer de Maria antes de poder tomar forma humana.
- Evidentemente! - respondeu Pórcia. - É o que sucede com os heróis e os semi-deuses - Hércules e Eneias e todos os outros.
- Mas os cristãos dizem que o seu Jesus foi o único - observou Lucrécia. As restantes raparigas pensaram nesta falta de lógica e abanaram as cabeças.
- Voltemos à pergunta original - disse eu, quando a discussão chegou ao fim. - Pitágoras diz-nos que o Poder supremo é “uma alma que perpassa de um lado para o outro e se difunde por todas as partes do Universo, e por toda a natureza, da qual deriva a vida de todas as criaturas vivas que são engendradas.” Isto é mais ou menos o mesmo ensinamento que recebi entre os Druidas, exceto que, como já disse, nós tendemos para pensar nesse Poder como sendo feminino, quando lhe damos um gênero.
Sendo assim - apontei de novo para as matronae - porque nos sentimos impelidos a fazer imagens daquilo que não pode, na verdade, ser representado, e o dividimos em deuses e deusas e lhes atribuímos histórias e nomes? Até mesmo os cristãos o fazem - dizem que o seu Jesus é o Deus Supremo e, no entanto, as histórias que contam acerca dele são como as histórias dos nossos heróis!
Houve um longo silêncio. De certa forma, pensei, era injusto pedir àquelas jovens que respondessem a uma pergunta cuja solução tinha escapado a teólogos e filósofos. Mas talvez, precisamente por serem do sexo feminino, elas achassem mais fácil de compreender.
- Tendes bonecas em casa, não é verdade? - acrescentei. - Mas sabeis que não são bebês verdadeiros. Porque gostais delas?
- Porque... - disse Lucrécia, hesitante, depois de outra pausa - posso agarrar nelas.
Finjo que são os bebês que hei-de ter quando crescer. É difícil amar uma coisa
que não tem rosto nem nome.
- Eu acho que é uma boa resposta, não vos parece? - perguntei, olhando em volta para o círculo. - Nas nossas mentes podemos compreender o Deus Supremo, mas enquanto vivermos nos nossos corpos humanos, neste mundo rico e variado, precisamos de imagens que possamos ver, tocar e amar. E cada uma delas mostra-nos uma parte do Poder supremo, e todas as partes juntas dão-nos uma idéia do todo. Por isso, as pessoas que insistem em que há apenas Um Deus, têm razão, tal como aquelas que veneram os muitos deuses, mas de maneiras diferentes.”