"Muitos livros foram escritos sobre bruxaria(...). Embora seus autores soubessem que bruxas existissem, nenhum deles consultou uma bruxa sobre suas visões a respeito da bruxaria. Afinal, a opinião de uma bruxa deveria ter algum valor, mesmo se não se encaixasse nas opiniões preconcebidas(...). Sou antropólogo e é consenso que o trabalho de um antropólogo é investigar o que as pessoas fazem e em que acreditam, e não o que outras pessoas dizem que elas fazem ou acreditam."(Gardner, 2003, p.21-22 em: A Bruxaria Hoje)
"A Bruxaria Moderna é um fato. Ela não é mais uma relíquia subterrânea da qual a camada restante, e até mesmo a própria existência, é acirradamente disputada pelos antropologistas. Ela não é mais o passatempo bizarro de um punhado de excêntricos. Ela é a prática religiosa ativa de um número substancial de pessoas." (Farrar, 1985, p. 2 em: A Bíblia da Feitiçaria)

quarta-feira, 9 de julho de 2008

Deus Castiga?

Por Ana Marques

O menininho voltava da escola, cabisbaixo. Seu rosto refletia muita preocupação. Parou para falar com as flores de um jardim, como sua mãe o havia ensinado a fazer.
- Florzinhas, Deus castiga?
As florzinhas adoravam aquele sol doce da tarde e olharam sem entender a tristeza do garoto.
- Ah! Florzinhas... minha amiguinha na escola disse que Deus castiga se eu fizer coisa errada, se eu não rezar para ele de noite, se eu não fizer tudo que ele manda.

- Estou com medo desse Deus que castiga.
As florzinhas, compreensivas, balançaram suavemente para lá e para cá, mostrando que não.Mas o menino continuou com dúvidas.
Ele caminhou mais um pouco, viu árvores grandes, de cascas grossas e raízes profundas. Pensou que elas deveriam saber muito e resolveu conversar com elas, como seu pai havia ensinado.
- Árvore, você é grande, enxerga mais do que eu, responde: Deus castiga?
- Deus castiga se eu converso com você? Se meus pais são diferentes?
- Sabe, estou com medo desse Deus. Acho que ele tem raiva de mim.

A árvore, penalizada, balançou suavemente para lá e para cá, mostrando que não. Caíram folhas na cabeça do menino, mostrando que elas eram todas um pouco diferentes e todas podiam cair ou ficar na grande árvore.

Mas o menino continuou com dúvidas.
Ele caminhou mais um pouco e ao longe viu grandes nuvens escondendo e mostrando o sol. Estavam brincando de esconde-esconde! Não! Estavam formando desenhos! E ele resolveu conversar com as nuvens e com o sol, como sua madrinha o havia ensinado.

- Sol, você está no alto. Vê tudo, ilumina, e como a madrinha sempre me fala, faz com que tudo nasça. Sol, Deus castiga porque não sou cristão? Deus castiga porque eu não fui batizado?
- Nuvens, vocês passam, escondem o sol e o mostram de novo, formam desenhos bonitos e trazem chuva. Nuvens, Deus castiga porque eu não acredito nele desse jeito que minha amiguinha falou que ele é? Deus castiga porque colocamos chifres nele?

As nuvens docemente se movimentando para cá e para lá e o brilho do Sol diziam que não. O calor suave do Sol esquentou algumas partes, depois outras do corpo do menino, e ele viu que não haviam preferidos, que o sol tocava a todos sem distinção.
Mas o menino continuou com dúvidas.

E veio a bola, colorida e vibrante, rolando alegremente.
O menino a viu e olhou-a, esperançoso:- Bolinha, Deus castiga? Deus castiga porque a gente acredita na Deusa?A bola, quase indiferente, continuou rolando.Rolou, rolou, rolou.

E o menino ouviu uma voz:- Ei!
Ele se virou.Um outro garoto o fitava, rindo.
- Quer brincar com a gente?O menininho pensou e respondeu:
- Quero!
- Então pega a bola! - respondeu o outro garoto.

O menino voltou os olhos para a bola e ela, debaixo daquele ameno sol de março fez coro com as nuvens, a árvore e as florzinhas, sorriu e respondeu silenciosamente para ele "Viu? Não existe castigo".

E o menino finalmente riu e correu pegar a bola para fazer o que o unia a todas as outras crianças do mundo, pagãs ou não: BRINCAR!

Nenhum comentário: