Posto agora, trechos de livros da Marion Zimmer Bradley (A sacerdotisa de Avalon, A senhora de Avalon, entre outros) que explicam um pouco da crenca pagã.
Crença na Deidade Dual:
Ouve criança, e dirte-ei o que está no coração dos Mistérios: No nível mais alto, existe o Uno, não manifestado, assexuado, que tudo abarca, auto-suficiente. Mas quando só o que existe é Ser, não há ação. E é por isso que falamos em Deus e Deusa. O Uno torna-se Dual, e os dois interagem para levar o espírito a manifestar-se. A força feminina desperta o masculino, ele a fecunda e ela dá à luz ao mundo... Todos os Deuses e também todas as Deusas são um, quer lhe chamemos Arianhood, Diana ou Pele, a luz do Mistério é Uma, mas nós vemo-la como a luz que se reflete através de cristais ou prismas, que se divide em muitas cores. Em cada terra os deuses são diferentes. Alguns podem ver apenas um Deus, enquanto outros veneram muitos, mas cada um dos modos pelo qual homens e mulheres vêem seus deuses ou deusas, contém uma parte desse Mistério.
Nós que somos pagãos, vemos a Deusa e o Deus de muitas maneiras, e por muitos nomes, mas conhecemos este primeiro e maior de todos os Mistérios, que é que os Deuses, como quer que lhes chamem, são todos Um.
Mas é verdade que, enquanto nós conhecemos a identidade de todos os Deuses por qualquer nome que lhes possamos chamar, acreditamos que servimos aos Deuses naquelas que são, talvez, a mais pura de suas formas, as divindades presentes em todos os homens e mulheres. E assim, comprometemo-nos a servi-los como pais, irmãos e filhos. É por isso que, por vezes, dizemos que vemos a Face dos Deuses, na face de todos os homens e mulheres.
Eles fazem bem em servir o Christos, se seguirem realmente os seus ensinamentos, Eles só estão errados ao supor que não existe outra verdade que não seja a que vêem.
“- É necessário - disse eu, numa certa manhã - que a pessoa culta compreenda não só aquilo em que acredita, mas a razão por que acredita. Por isso, pergunto-vos, quem é o Deus Supremo?
Durante um longo momento, as jovens entreolharam-se, como se não tivessem a certeza do que eu queria significar com aquela pergunta, e muito menos dirigida a elas. Finalmente, Lucrécia, cuja família exportava lã, ergueu a mão.
- Júpiter é o rei dos deuses, é por isso que o imperador põe a sua imagem nas moedas.
- Mas os cristãos dizem que todas as divindades, com exceção do deus dos Judeus, são demônios - objetou Tércia, a filha do sapateiro.
- Isso é bem verdade, e por isso vos pergunto, quantos deuses há?
Gerou-se uma grande discussão, até que ergui a mão para impor silêncio de novo.- Têm todas razão, segundo a nossa maneira de pensar. Cada terra e cada distrito têm as suas próprias divindades, e no império, a nossa prática tem sido respeitar todos. Mas pensem nisto: os maiores dos nossos filósofos e poetas falam de uma divindade suprema. Alguns chamam a esse Poder “Natureza” e outros “Éter”; outros ainda, chamam-lhe “o Deus Supremo”. O poeta Maro diz-nos:
Sabei primeiro que o céu, a terra, o mar
A pálida orbe lunar o curso das estrelas,
Todos são por uma Alma alimentados,
Um Espirito, uma chama celestial
Que brilha em cada membro da estrutura,
E move o todo grandioso.
Mas, e quanto à Deusa? - perguntou a pequena Pórcia, apontando para o altar ao canto da sala soalheira que usávamos para dar as aulas, onde sempre ardia uma lamparina diante do baixo-relevo das Mães. Por vezes, quando ninguém estava presente, eu acariciava a cabeça do cão no regaço da quarta Mãe e sentia-a quente e macia sob a minha mão, como se Hylas tivesse voltado para mim.
Sorri, pois tinha esperanças de que alguém levantasse essa questão.
- Faz, sem dúvida, mais sentido ver o Poder supremo como feminino, se quisermos dar um gênero à Divindade, visto que é a mulher que dá a vida. Mesmo Jesus, que os cristãos dizem ser filho de Deus ou mesmo o próprio Deus, teve de nascer de Maria antes de poder tomar forma humana.
- Evidentemente! - respondeu Pórcia. - É o que sucede com os heróis e os semi-deuses - Hércules e Eneias e todos os outros.
- Mas os cristãos dizem que o seu Jesus foi o único - observou Lucrécia. As restantes raparigas pensaram nesta falta de lógica e abanaram as cabeças.
- Voltemos à pergunta original - disse eu, quando a discussão chegou ao fim. - Pitágoras diz-nos que o Poder supremo é “uma alma que perpassa de um lado para o outro e se difunde por todas as partes do Universo, e por toda a natureza, da qual deriva a vida de todas as criaturas vivas que são engendradas.” Isto é mais ou menos o mesmo ensinamento que recebi entre os Druidas, exceto que, como já disse, nós tendemos para pensar nesse Poder como sendo feminino, quando lhe damos um gênero.
Sendo assim - apontei de novo para as matronae - porque nos sentimos impelidos a fazer imagens daquilo que não pode, na verdade, ser representado, e o dividimos em deuses e deusas e lhes atribuímos histórias e nomes? Até mesmo os cristãos o fazem - dizem que o seu Jesus é o Deus Supremo e, no entanto, as histórias que contam acerca dele são como as histórias dos nossos heróis!
Houve um longo silêncio. De certa forma, pensei, era injusto pedir àquelas jovens que respondessem a uma pergunta cuja solução tinha escapado a teólogos e filósofos. Mas talvez, precisamente por serem do sexo feminino, elas achassem mais fácil de compreender.
- Tendes bonecas em casa, não é verdade? - acrescentei. - Mas sabeis que não são bebês verdadeiros. Porque gostais delas?
- Porque... - disse Lucrécia, hesitante, depois de outra pausa - posso agarrar nelas.
Finjo que são os bebês que hei-de ter quando crescer. É difícil amar uma coisa
que não tem rosto nem nome.
- Eu acho que é uma boa resposta, não vos parece? - perguntei, olhando em volta para o círculo. - Nas nossas mentes podemos compreender o Deus Supremo, mas enquanto vivermos nos nossos corpos humanos, neste mundo rico e variado, precisamos de imagens que possamos ver, tocar e amar. E cada uma delas mostra-nos uma parte do Poder supremo, e todas as partes juntas dão-nos uma idéia do todo. Por isso, as pessoas que insistem em que há apenas Um Deus, têm razão, tal como aquelas que veneram os muitos deuses, mas de maneiras diferentes.”
Durante muitos anos as bruxas foram vítimas de perseguições e mortes. Hoje, a bruxaria sai das sombras e mostra que ainda está tão viva como durante a Idade das Trevas, o chamado neo-paganismo traz novamente o antigo culto da natureza aliada às celebrações sazonais e à prática de magia.Sejam Bem-Vindos!!
"Muitos livros foram escritos sobre bruxaria(...). Embora seus autores soubessem que bruxas existissem, nenhum deles consultou uma bruxa sobre suas visões a respeito da bruxaria. Afinal, a opinião de uma bruxa deveria ter algum valor, mesmo se não se encaixasse nas opiniões preconcebidas(...). Sou antropólogo e é consenso que o trabalho de um antropólogo é investigar o que as pessoas fazem e em que acreditam, e não o que outras pessoas dizem que elas fazem ou acreditam."(Gardner, 2003, p.21-22 em: A Bruxaria Hoje)
"A Bruxaria Moderna é um fato. Ela não é mais uma relíquia subterrânea da qual a camada restante, e até mesmo a própria existência, é acirradamente disputada pelos antropologistas. Ela não é mais o passatempo bizarro de um punhado de excêntricos. Ela é a prática religiosa ativa de um número substancial de pessoas." (Farrar, 1985, p. 2 em: A Bíblia da Feitiçaria)
2 comentários:
Maravilhoso o texto ... assim como diversos outros textos ...
Maravilhoso Blog!!
Paz e luz pelas para você, nessa sua jornada!
achei linda a parte em que os "Deuses podem estar dormindo graças ao ceticismo" alheio, muito bom o conteúdo encontrado no blog pra um cético agnóstico, principalmente um cético agnóstico curioso. gostei do blog. Bjkz!
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