Por Mavesper Cy Ceridwen
Eu sou pagã hoje no Brasil e vivo a religião da Deusa em amor e sinceridade, caminhando e aprendendo a fluir com os ritmos da natureza. Eu procuro viver em beleza, para que a beleza me envolva. Conheço a Deusa e a cada dia mais a compreendo um pouco, sabendo que jamais acabarei essa tarefa, o que enche minha vida de propósito e riqueza. Encontro a Deusa na face de cada pessoa que cruza meu caminho, mesmo as que me são desagradáveis.
Eu sou pagã hoje no Brasil e meu corpo dói com cada notícia de água envenenada, natureza esgotada, animais maltratados, extermínios e queimadas insanas... Conheço a Lua no meu próprio sangue, mesmo quando as nuvens a encobrem no céu. Vivo os ciclos da natureza e celebro as datas ancestrais, danço, canto e comemoro os grandes e pequenos Sabbats. A cada fase da Lua saúdo-a em grupo ou sozinha, mas nunca deixo de sorrir para cada um de seus mistérios.
Eu sou pagã hoje no Brasil e uso a magia para melhorar minha vida e das pessoas que me procuram, aprendendo com meus erros e renovando minha capacidade de reconhecer o universo como um milagre de magia e perfeito equilíbrio. Conheço os diversos mundos e busco trazer deles o que melhor condiz com minha realidade e as necessidades que surgem nos giros da Roda da Vida, aprendendo a lição dos ciclos.
Eu sou pagã hoje no Brasil e luto para me conhecer cada vez mais, vendo minha sombra e acolhendo o que posso integrar, conhecendo a Deusa Negra em minha vida e aprendendo a amá-la. Como pagã também vejo a sombra coletiva de nossa nação e não fecho os olhos quanto ao crime, a violência, a corrupção, a posse da terra, a miséria e a fome. Como pagã sou revolucionária, não conformista, universalista e ardorosa defensora das liberdades, mantendo a unidade da consciência ecológica a sabendo a importância de defender o direito de quem pensa diferente de nós.
Eu sou pagã hoje no Brasil e vejo com inquietação nossa religião se tornar mais conhecida e visada. Combato a ignorância esclarecendo todos os que se interessam pela bruxaria, mostrando que somos pessoas normais, com vidas normais e não espetáculos de salão. Sofro com a incompreensão, muito mais pelos outros do que por mim. Admiro quem se mantém fiel ao Caminho mesmo diante de dificuldades familiares e sociais e faço valer nossas leis de não discriminação religiosa.
Eu sou pagã hoje no Brasil e percebo a importância de conscientizar as pessoas de sua própria auto-imposta escravidão. Vejo a importância de agir e viver de acordo com meu poder pessoal e abençôo cada chance de transformação que a vida me traz. Como bruxa, tenho orgulho de ser mulher, de falar a outras mulheres sobre nossa irmandade básica e de ver os homens tocados pela Deusa como os companheiros ideais e a única esperança de uma sociedade feita de parceria e soma de capacidades.
Eu sou pagã hoje no Brasil e celebro a Roda do Ano criando junto com os deuses e com as pessoas que me cercam a dança ancestral, refazendo os caminhos já trilhados por nossos antepassados de uma maneira nova e em consonância com nosso tempo. Levo minhas crianças às celebrações lunares e solares, desejando que elas cresçam cada vez mais em consciência, auto-determinação, independência e liberdade. Que elas possam fazer a magia do amor modificar os mundos.
Eu sou pagã hoje no Brasil, vivendo em cidades grandes sou uma bruxa urbana que descobre a natureza nos locais mais inusitados. Danço minhas danças de poder nas danceterias, ou vou para parques. Sempre que posso busco a mata, o cerrado e a praia. Compro meus instrumentos em shoppings ou os faço com minhas mãos. Reabasteço-me na natureza e dou poder a tudo que me cerca, vivificando com minha magia tudo o que faço, de escrever um texto a preparar um almoço, da roupa que uso ao modo como me movimento. Descubro a riqueza da minha terra, da herança indígena às contribuições européias e africanas, e as honro em meus rituais sem esquecer que a Deusa não tem nacionalidade, e fala todas as línguas.
Eu sou pagã hoje no Brasil e conheço muitos pagãos, cada vez mais gente que acorda do pesadelo das visões retilíneas do universo e passa a sonhar o doce sonho da Terra. Nessas pessoas descubro meus irmãos de alma, meus companheiros de caminho, meus parceiros na dança espiral. Me orgulho de viver em um tempo em que a Deusa sorri e podemos retribuir seu sorriso em alegria e liberdade. Nunca mais os tempos da fogueira!
Eu sou pagã hoje no Brasil e vejo mais e mais gente ouvindo o Chamado da Senhora. Eu sou pagã hoje no Brasil e a cada dia vejo aumentar a responsabilidade de orientação e auxílio que devemos dar aos mais novos na Arte, como expressão de nosso compromisso com os Antigos.
Eu sou pagã hoje no Brasil e sei que temos um dos maiores movimentos wiccanianos do mundo na atualidade, e busco me integrar às iniciativas e eventos que façam uma ponte entre nós e nossos irmãos de outros países, sabendo que isso fortalece nossos elos e o paganismo como um todo.
Eu sou pagã hoje no Brasil e sei como é difícil explicar a alguém que não o seja o que significa essa sensação única de ser integrado à Mãe e ser único e múltiplo, unido, completo e sagrado.
Eu sou pagã hoje no Brasil e a respiração de cada ser vivo deste planeta, e a pulsação de cada estrela além, bate no compasso do meu coração, pois eu sei que Dela é toda vida e todo amor.
Durante muitos anos as bruxas foram vítimas de perseguições e mortes. Hoje, a bruxaria sai das sombras e mostra que ainda está tão viva como durante a Idade das Trevas, o chamado neo-paganismo traz novamente o antigo culto da natureza aliada às celebrações sazonais e à prática de magia.Sejam Bem-Vindos!!
"Muitos livros foram escritos sobre bruxaria(...). Embora seus autores soubessem que bruxas existissem, nenhum deles consultou uma bruxa sobre suas visões a respeito da bruxaria. Afinal, a opinião de uma bruxa deveria ter algum valor, mesmo se não se encaixasse nas opiniões preconcebidas(...). Sou antropólogo e é consenso que o trabalho de um antropólogo é investigar o que as pessoas fazem e em que acreditam, e não o que outras pessoas dizem que elas fazem ou acreditam."(Gardner, 2003, p.21-22 em: A Bruxaria Hoje)
"A Bruxaria Moderna é um fato. Ela não é mais uma relíquia subterrânea da qual a camada restante, e até mesmo a própria existência, é acirradamente disputada pelos antropologistas. Ela não é mais o passatempo bizarro de um punhado de excêntricos. Ela é a prática religiosa ativa de um número substancial de pessoas." (Farrar, 1985, p. 2 em: A Bíblia da Feitiçaria)
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