"Muitos livros foram escritos sobre bruxaria(...). Embora seus autores soubessem que bruxas existissem, nenhum deles consultou uma bruxa sobre suas visões a respeito da bruxaria. Afinal, a opinião de uma bruxa deveria ter algum valor, mesmo se não se encaixasse nas opiniões preconcebidas(...). Sou antropólogo e é consenso que o trabalho de um antropólogo é investigar o que as pessoas fazem e em que acreditam, e não o que outras pessoas dizem que elas fazem ou acreditam."(Gardner, 2003, p.21-22 em: A Bruxaria Hoje)
"A Bruxaria Moderna é um fato. Ela não é mais uma relíquia subterrânea da qual a camada restante, e até mesmo a própria existência, é acirradamente disputada pelos antropologistas. Ela não é mais o passatempo bizarro de um punhado de excêntricos. Ela é a prática religiosa ativa de um número substancial de pessoas." (Farrar, 1985, p. 2 em: A Bíblia da Feitiçaria)

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

LITHA OU SONHO DE UMA NOITE DE VERÃO

Por Mavésper Cy Ceridwen
Ela acordou sentindo a tepidez da noite. Ergueu os braços em direção às estrelas e cada uma delas brilhou mais forte em resposta. Ela sentiu o prazer de ser carne, a delícia de cada músculo sob a pele firme e jovem, do corpo magnífico e nu. Deslizou as pernas em uma carícia, sentindo a relva macia em que estava deitada. Abriu as narinas e aspirou o cheiro da terra úmida e das flores que marcavam a noite. Passou os dedos entre os longos cabelos, provando cada carícia como uma preciosidade e cada lufada de brisa como a antecipação de mais delícias.
Alguns animais se aproximaram... os esquilos deslizavam suas caudas perto dela, que tinha produzido para eles alguns grãos maduros e saborosos, os pássaros bicavam de leve sua pele doce. Enquanto Ela sorria e se deliciava com o contato macio dos pêlos e provava uma fruta madura, um som se ouviu ao longe: era a trombeta do caçador.
Ah, com um gesto impaciente de sua mão a trombeta se calou... não era hora de perturbar o despertar tranqüilo e sensual da floresta. Na mesma hora o caçador ao longe sentiu um cheiro de carne já assada... voltou ao acampamento e viu o enorme assado que dava para todos, se maravilhando com tal magia.
Nessa noite o homem, satisfeito, não caçaria. Iria dormir, sorrindo entre os prazeres do próprio leito, agradecendo a generosidade dos deuses. Ela começou a fazer um colar de rosas vermelhas. E ao contato de seus dedos a fragrância que exalavam acordou a floresta toda. O Povo Pequeno veio chegando, pronto para a festa. Ela os recebeu com sorrisos e doces, as flautas enchiam o ar e os pequenos tambores marcavam o pulsar da terra em festa. Absorvida com seus amigos Ela só se voltou quando viu a sombra inconfundível...
Silencioso, Ele chegara, altivo e doce, forte e viril, músculos e chifres... Ela o saudou com seu melhor sorriso:
- Senhor do Chifre do Sol, boas noites! Demorastes!
Com um sorriso quente e cheio de promessas Ele respondeu:
- Senhora das Rosas, só me entreti fazendo um presente para vós...
E ergueu uma maravilhosa coroa de ouro, brilhante como o Sol do verão. A coroa faiscava em suas mãos, e dava a impressão de ser fluída, como se o Sol tivesse se liquefeito e ficasse preso naquela forma pela magia do Deus. Ela se levantou graciosa e ficou de costas, pedindo a Ele em silêncio que a coroasse. Ele sorriu, ergueu os longos cabelos e beijou a nuca perfeita...Virou-a para Ele e disse:
- A Senhora das Rosas é soberana em si mesma. Só vós podeis vos coroar.
Vendo o acerto de suas sábias palavras, Ela tomou a coroa e colocou sobre a cabeça, voltando-se para Ele majestosa. Ele ficou mudo, extasiado pela beleza faiscante, em total devoção. Ela viu nos olhos dele o Amor que borbulhava, fervia em redemoinhos de sentimentos e antecipação. Ela se perdeu naqueles olhos e quando os corpos dos dois se entrelaçaram na eterna dança da vida, tudo o que existia sonhou com eles e suas delícias.
E quando o orgasmo veio, a natureza rugiu em mil vozes de prazer e êxtase. E, então, tudo o que existe soube que era Litha mais uma vez.

Um comentário:

Cleber disse...

Posso pedir algum material a respeito? Desculpe-me a intrasigência, é que desconheço o culto a natureza ou Bruxaria, se não pelo que li nas estórias e nos livros de história didáticos. Poderia me esclarecer, qualquer material que me inicie neste conhecimento será de bom grado!

Atenciosamente,

Cleber Farias
cleber.farias@gmail.com